A ineficiência energética em Portugal agrava a crise económica e social por Eugénio Rosa
A baixa eficiência como é utilizada a energia em Portugal é um dos problemas estruturais da nossa economia, já que é causa e consequência de distorções que persistem nela, e que não tem merecido a atenção dos sucessivos governos, incluindo o actual. Em Portugal para produzir um euro de riqueza (PIB) gasta 2,47 vezes mais energia do que em França; 2,4 vezes mais do que na Áustria; 2,3 vezes mais do que na Alemanha; 2,1 vezes mais do que na Finlândia; 1,68 vezes mais do que na Irlanda; 1,54 vezes do que na Bélgica; 1,49 vezes mais do que na Espanha; 1,47 vezes mais do que na Itália; 1,42 vezes mais do que na Grécia; 1,34 vezes mais do que na Holanda; 1,26 vezes mais do que no Luxemburgo. Mesmo países que entraram para a União Europeia em Maio de 2004, como é o caso da Polónia, tem uma maior eficiência energética superior à de Portugal.
Como consequência, a factura energética paga pelo País, que importa cerca de 88% da energia primária que consome, é extremamente pesada e está a aumentar de uma forma vertiginosa. De acordo com dados do INE, o aumento do custo das importações de Combustíveis Minerais, ou seja, de petróleo, entre 2004 e 2005, foi superior a 38%. Em 2004, em cada 100 euros de importações portuguesas dos países extracomunitários 30 euros já eram de Combustíveis Minerais, ou seja, de petróleo e derivados. Em 2005, portanto um ano depois, a relação já é de 38 euros em cada 100 euros de importações. Bastava aumentar a eficiência na utilização da energia em Portugal para o nível de eficiência atingido na Finlândia, por ex., para reduzir a factura energética portuguesa e a dependência energética do País para cerca de metade.
Em Portugal, entre 1994 e 2005, o preço da electricidade para os consumidores industriais diminuiu em cerca de 15,7%, enquanto o preço da electricidade para os consumidores domésticos, ou seja, para as famílias aumentou em 4,5%. Em 2005, em Portugal o preço da electricidade para os consumidores industriais é superior ao preço médio comunitário em 5,9%, e o preço da electricidade para os consumidores domésticos é superior ao preço médio comunitário em cerca de 20%. Preços de energia eléctrica muito superiores ao preços médios comunitários associados a uma baixíssima eficiência energética tornam a factura da energia extremamente pesada quer para as empresas quer para os consumidores domésticos, e contribuem para o agravamento da crise.
Um sector onde a ineficiência energética é extremamente elevada é o dos transportes. Portugal é o país da União Europeia onde o transporte individual tem crescido mais em prejuízo do transporte colectivo (nas AM de Lisboa e do Porto, entre1991 e 2001, a utilização do transporte individual aumentou de 24% para 46%) e onde o transporte rodoviário de mercadorias tem o peso mais elevado em prejuízo do transporte ferroviário e marítimo. Portugal apesar de ser um pais com reduzidos recursos, nomeadamente energéticos, é o país da U.E. que utiliza da forma mais ineficiente e irracional a energia, um bem escasso e de preço cada vez mais elevado.
A profunda distorção que se verifica a nível da economia, na utilização do recurso escasso que é a energia, é a consequência da ausência de qualquer politica séria para alterar as profundas distorções verificadas neste campo, que fragilizam a economia e a sociedade. Ao se ter investido fundamentalmente em auto-estradas e em túneis para trazer o transporte individual para dentro das grandes cidades; em não se colocar em primeiro lugar o transporte ferroviário e mesmo o marítimo; em não se ter investido fortemente no metro, como foi feito por toda a Europa em relação aos grandes centros urbanos, mantendo em funcionamento mini-metros nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, o que se tem na verdade feito é promover o transporte individual e o transporte rodoviário de mercadorias, transportes caros, que fragilizam a economia e a sociedade portuguesa tornando-as, em termos energéticos, extremamente dependentes do exterior ampliando assim os efeitos dos choques petrolíferos e da energia cara como está a suceder. A imprevidência e a incompetência pagam-se caras mesmo em termos nacionais.
O governo actual parece ainda não ter aprendido a lição, ao avançar, numa decisão de posso, quero e mando, uma repetição dos 10 estádios de futebol, com os mega-projectos do TGV e Ota, mal estudados e sem ter avaliado as repercussões que eles terão em relação a outros projectos que o país necessita para sair do estado de atraso em que se encontra, e onde o Estado terá de ter necessariamente um papel motor, face à fragilidade do tecido económico português e à incapacidade dos mercados para resolver os verdadeiros problemas nacionais. Aumentar a baixíssima eficiência energética que se verifica no nosso País, e corrigir as graves distorções que se verificam a nível dos diversos modos de transporte em Portugal, que, a persistirem, contribuirão para agravar ainda mais a grave crise económica e social actual, devia ser um objectivo prioritário da acção do governo. E não serão meras declarações como as feitas pelo ministro das Finanças no fim do ECOFIN que resolverão problemas nacionais como estes. Para ler todo o artigo visite:http://resistir.info |