Interessante e transparente o artigo do Senhor António Justo.
Não sei qual seriam as reservas de ouro que existiam no Banco de Portugal antes da Revolução de Abril de 1974. E também não posso avaliar quantas toneladas já foram vendidas nos (quase se perde a conta) Governos que dirigiram os portugueses depois do dia da liberdade que lhes foi dada.
Eu (os outros que pensem na melhor maneira que acharem) analiso que as reservas de ouro de um país, são sem ponta de dúvida um símbolo de riqueza, como era a de um lavrador que (no tempo que os havia em Portugal), ao longo de sua vida, as suas economias iam sendo investidas em ouro: voltas, arrecadas, pulseiras para as filhas e umas correntes de ouro para os rapazes que vaidosamente, aos domingos, penduravam nas casas do botões dos coletes. Era isso a identificação da riqueza e da economia forte do ti Manel, do Ti Jaquim lavradores. Portugal com as guerras todas e mais uma coloniais (enfrentar o desacordo internacional) as reservas de ouro do Banco de Portugal estavam intocáveis. Porém se sabia que os políticos (os do contra e em desacordo com a política do Prof.Marcelo Caetano e herdada do proeminente economista Dr. Salazar) já lambiam o beiço para virem a ser os donos do ouro do Banco de Portugal, claro está dos portugueses.
O Governo é deles e as barras do ouro que deveriam ultrapassar mais ou aproximadamente um milhão de toneladas. Mas, pouco anos depois e no executivo do Dr. Mário Soares já não havia divisas estrangeiras que chegassem para fazer tocar um cego a sua viola. Ouvi ao Dr. Mário Soares a proferir na televisão (numa altura que foi a Portugal de visita a uns familiares): portugueses terão que apertar mais um furo ao cinto e, quando se deslocarem para os empregos utilizem um carro onde se metam uma sérias de amigos, etc. etc.. Se um português tivesse necessidade de ir ao estrangeiro, emigrar mesmo era lhe concedido uns 12 contos e este montante registado nas últimas folhas do passaporte. Em 1980 a economia de Portugal estava de ceroulas com um atilhos amarrados junto aos artelhos. O papel nota ninguém o aceitava no exterior, quando no governo da ditadura o escudo era uma das moedas mais fortes no mundo e de prestígio. O escudo era mais personalizado que a peseta. Salvou Portugal da "bancarota" a entrada no clube da União Europeia. De lá vieram milhões de ECU e estes foram aplicados selvaticamente e hoje estamos como estamos. Economicamente malíssimos e as reservas de ouro a zarpar para os "senhores do mundo", os américas.
Mas voltando ao lavrador e agarrado às raizes económicas que aprendeu na casa dos pais e avós, sou se desfazia do seu ouro se acontecesse uma desgraça na sua casa. O ditado bem o diz: "vão se os aneis e fiquem os dedos".... eram os dedos das mãos para voltar a reconstruir a sua economia. Acertadamente e lucidamente o Sr. António Justo diz: As verdadeiras reservas do banco de Portugal "são os emigrantes" com as suas remessas. E são mesmo! Nos meus longos anos de emigrante (47 anos) e depois de ter lidado com muitos "Zés Emigrantes iguais a mim), em todos eles, depois de instalados e começarem a trabalhar a suas preocupações eram: amealhar uns cobres, mandá-los à família ou para a ajudar a viver ou depositá-los na CGD. Muitos fizeram autênticos malabarismo para conseguir enviar uns "dinheiros" para Portugal quando nos países onde trabalhavam não autorizavam a transferir divisas para o exterior. Chegavam a comprar lotaria, premiada, da Santa Casa de Misericódia de Lisboa , para os bilhetes serem rebatidos em Portugal que tinham sido trocados pela moeda local que já não circulava no exterior. Portugal de momento fazem-se poucos filhos e a prova nisto está o encerramento de maternidades.
Os emigrantes portugueses no estrangeiros que são uns milhões, os da primeira, da segunda e da terceira geração já não fazem filhos, mas fazem-nos os da quarta e quinta mas os filhos que nascem, muitos já de sangue caldeado pela mistura de sangue luso com o de outras etnias, Portugal já a eles não lhes diz nada. Alguns falam um pouco de português algaraviado e outros não falam mesmo uma palavra sequer. Este caso vive comigo! Tenho uma filha de 20 anos; em minha casa há umas boas centenas de livros de autores portugueses; come-se comida portuguesa ( a minha mulher de 26 anos chinesa aprendeu a cozinhar caldo verde e batatas com bacalhau), gosta muito de Portugal, já foi por duas vezes (um mês e meio por cada) e fala pouco mais de meia dúzia palavras da língua de Camões. A minha filha não é um caso isolado igual ao dela há outros milhares pelo mundo. Estudaram em escolas e universidades dos países onde os pais foram acolhidos e neles vão trabalhar e constituir família. Com isto os da primeira (já velhinhos e outros partiram), os da segunda e da terceira gerações, ainda vão enviando remessas de dinheiro para Portugal, mas os da quarta e os da quinta duvido que mandem.
Por último os políticos que a gente teve (todos) não foram visionários em cima do futuro de Portugal e não tiveram olhos de ver para construir um Portugal estável, demográficamente; e não viesse acontecer a desertificação dos meios rurais onde se vêm só velhos, a caminhar vergados de reumatismo e à espera que Deus os leve para o céu. Porque as miséria desta gente não lhes pode conceder um lugar no inferno, mas no céu, porque o inferno já o tiveram na terra. É a tragédia da "diáspora", que alimentamos mundo com gente (E BOA!) e o Mundo, de onde partimos é um mundo , que não tarda a raça lusa a extinguir-se.
Alfredo Mateus Catarino